Pesquisar no blog

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Não há limites para os que querem atingir os objetivos




Na última quinta-feira, dia 11, foi comemorado em todo o país o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física 

Dos mais de 190 milhões de brasileiros, pelo menos 23,9% (45 milhões) declararam ao Censo (2010) possuir algum tipo de deficiência (mental, auditiva, visual ou física). O número de deficientes é expressivo, mesmo assim muitas vezes eles passam despercebidos. Sem exageros, pode-se dizer que são cidadãos quase invisíveis perante a sociedade. Na última quinta-feira, dia 11, foi comemorado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física. A data marca as lutas e conquistas dessas pessoas que almejam o respeito e a promoção da dignidade como responsabilidade de todos.

No Brasil, ao menos 13 milhões de pessoas se consideram deficientes físicas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Deficiência física é uma consequência de problemas que ocorrem no cérebro ou sistema locomotor, e levam a um mau funcionamento ou paralisia de membros. Entre as principais causas estão fatores genéticos, fatores virais ou bacterianos, fatores neonatal ou ainda fatores traumáticos (especialmente os medulares).

ALÉM DA ESPERANÇA
Celi é funcionária pública da biblioteca municipal
O grau de dificuldade na vida de um deficiente físico é sempre maior em praticamente todas as atividades que realiza e isso sem falar no preconceito que muitos sofrem. Mesmo assim, a força de vontade, determinação e a esperança de muitos deficientes rompe barreiras que parecem intransponíveis a eles. "Qualquer pessoa que foge ao padrão do que seria normal é sempre vista com outros olhos. O deficiente que disser que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito está mentindo", diz a funcionária pública Celi Fátima de Pauli, que teve poliomielite aos seis meses de vida. A doença afetou a coordenação motora dela. Hoje, aos 45 anos, ela ainda não cansou de lutar e provar para si mesma de que é capaz de levar uma vida normal como qualquer outra pessoa.

"Comecei a andar com sete anos. E só fui para a escola pela primeira vez aos 21. Queria muito aprender a ler e achava que não conseguiria escrever, mas hoje consigo fazer isso no computador", conta ela, que em 1995 escreveu e lançou um livro autobiográfico.

Passando pelo supletivo de jovens e adultos, Celi terminou o Ensino Médio em 1999, e imediatamente iniciou o curso de Artes, se formou, e pós graduou-se em Educação Especial. "Hoje tem toda essa questão de inclusão social, mas na época em que iniciei os estudos não havia muito disso aqui em São Miguel do Oeste. Nunca tive problemas com colegas, todos me tratavam bem, o que me chateava eram alguns professores demonstrarem certo preconceito comigo".

Mesmo com as dificuldades e desconfianças do dia a dia, ela lembra que nunca pensou em desistir dos objetivos: "Quanto mais eu era desafiada, mais eu queria provar que podia fazer as coisas".

ARTE COM OS PÉS
Quem já assistiu ao filme "Meu pé esquerdo" de 1989, baseado na história real do irlandês Christy Brown, sabe como é impressionante a capacidade do ser humano de vencer barreiras e se superar. No longa-metragem, algumas das cenas mais incríveis são as que Brown aparece desenhando quadros com o pé esquerdo. Assim como no filme, impossibilitada de usar as mãos para pintar, Celi também não teve medo de aprender a pintar e fazer arte com o pé (direito). Com o pincel entre os dedos, ela desenha belos quadros e se surpreende: "Para pintar com o pé, não tenho dificuldades. Eu às vezes olho para os quadros e penso: Será que fui eu que fiz?", brinca.

VIDA SOBRE DUAS RODAS
A frase 'vida sobre duas rodas' tem íntima relação com Luiz Elizeu de Vargas, de 56 anos. Mas não, ele não é motociclista e nunca foi. Luiz é cadeirante e a cadeira de rodas é a extensão do seu corpo há mais de 35 anos. Aos 19 anos, em plena juventude, ele conta que servia o Exército na cidade de Pelotas/RS quando sofreu um acidente com arma de fogo. Um colega, ao manusear uma arma, acabou acertando-o sem intenção, quando Luiz estava deitado. O tiro atingiu a terceira e quarta vértebras que ficam na altura aproximada do umbigo. Daquele dia em diante, a vida do jovem se transformaria para sempre. "Aprendi a ser guerreiro, foi uma situação difícil, o desânimo e a tristeza bateram, mas superei para poder continuar vivendo".

Mesmo com a dificuldade de locomoção, Luiz conta que decidiu levar uma vida normal. Depois de mais de cinco anos de tratamento, após o acidente, veio morar em São Miguel do Oeste. Aqui ele conta que realizava todas as atividades possíveis. "Ia ao banco normalmente, fazia o que podia. Claro que, devido à falta de acessibilidade, ficava impossibilitado de realizar muitas coisas. As pessoas estranhavam, no começo, que um cadeirante circulasse pela cidade. Nos anos 80, aqui na cidade ainda não estavam acostumados a ver esse tipo de atitude", lembra.

ESPORTE
Luiz deixa claro que a dificuldade de locomoção nunca foi encarada como obstáculo. O amor e a satisfação que ainda tem pelo esporte são sentimentos importantes que o ajudaram muito ao longo dos anos. "Sempre gostei muito de futebol, aí tive a ideia de montar uma escolinha e logo começamos a participar de campeonatos", comenta. A partir desta iniciativa, ele conheceu pessoas e fez amigos. "O esporte foi uma das minhas maiores realizações, que me proporcionou maior integração e superação".

Depois desta experiência começaram a aparecer oportunidades para que ele participasse de competições destinadas exclusivamente para deficientes físicos. "Participava de jogos de dama, xadrez, dominó e fui muitas vezes campeão. Acredito até que foi através destas práticas que consegui maior longevidade, porque é difícil um cadeirante viver tanto tempo sobre uma cadeira de rodas", diz ele, explicando que pelo fato de ficar muito tempo sentado um cadeirante precisa de cuidados extremos com a saúde.

ACESSIBILIDADE
Luiz Elizeu em seu carro adaptado para cadeirantes
Quanto à acessibilidade, Luiz destaca que ainda é preciso fazer muita coisa, mas salienta: "Não é o padrão ideal, mas progrediu muito, percebo que existe uma consciência maior das pessoas quanto à acessibilidade, mas também porque agora é lei e os estabelecimentos e prédios comerciais têm de se adequar".


Ele ainda comenta que há muitos lugares que parecem estar adaptados, mas com rampas e elevadores que não ajudam muito. "As pessoas têm que ter noção, as adaptações para acesso dos deficientes físicos têm que estar dentro das condições ideais; existem muitas rampas por aí que são muito inclinadas e dão a falsa impressão de que estão beneficiando cadeirantes quando na verdade são perigosas, pois podem derrubar os cadeirantes. Aí fica inviável".

Mesmo com as limitações, tanto Luiz quanto Celi aparentam ser pessoas independentes e as atitudes e iniciativas dos dois deixam isso ainda mais evidente. Para eles dois, certamente a deficiência física é um limite apenas para o corpo, mas definitivamente não é para o espírito.

Fernando Dias - Jornalista MTB/SC 4468

Nenhum comentário:

Postar um comentário