Pesquisar no blog

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Curiosidade que trouxe renda familiar extra


Sem pretensões, mas instigada pela curiosidade, agricultora faz curso de produção com fibra de bananeira, atividade que hoje se tornou um hobby e a trouxe retorno financeiro extra


Falta de tempo, correria e pressa são algumas das principais queixas do mundo moderno. Quebrar o ritmo frenético e mudar os hábitos do dia a dia têm se revelado, cada vez mais, um verdadeiro desafio para todos nós. Quantas vezes nos pegamos pensando em adicionar uma atividade extra à nossa rotina - um curso de idiomas, um exercício físico, ou até mesmo um hobby, como a pintura ou o artesanato - mas por falta de tempo recuamos e acabamos por adiar, não efetuando mudanças que lá na frente poderiam significar mais qualidade de vida, um grau maior de conhecimento, satisfação pessoal e até mesmo renda extra.

O trabalho, os afazeres, os compromissos pessoais, a educação e o bem-estar de nossos filhos demandam dedicação e esforços que muitas vezes tomam boa parte das horas de nosso dia. Nossa semana, salvo raras exceções, está sempre comprometida, e quando nos sobra um “tempinho” preferimos descansar, dormir ou relaxar. Dividir em horários específicos as atividades desempenhadas diariamente, ou quebrar a rotina, não é uma prática simples de ser aplicada, exige determinação, dedicação e principalmente força de vontade.

CURIOSIDADE

Porém, às vezes, uma dose certa de curiosidade pode nos determinar a encontrar tempo para introduzirmos uma atividade incomum aos nossos hábitos. Mais do que isso, essa dose - de curiosidade - pode nos impulsionar a encontrarmos força de vontade para reprogramar nossas práticas e adicionar novas prestezas às horas de nossos dias.

Curiosidade: não à toa estamos agora falando sobre ela, afinal foi por intermédio do desejo de aprender - característica marcante de uma pessoa curiosa - que a agricultora, dona de casa e mais recentemente artesã, Clair Maria Fritzen, moradora da linha Três Curvas, São Miguel do Oeste, decidiu quebrar a rotina de trabalho diário e encontrar tempo para se dedicar ao artesanato. Um artesanato conhecido - mas pouco confeccionado no extremo oeste catarinense - cuja matéria-prima é a fibra de bananeira, material considerado extremamente importante para tecidos de alta qualidade. No Japão, o cultivo de banana para vestuário e uso doméstico remonta pelo menos ao ano de 1200 d.C.

“Fui atraída por essa atividade mais pela curiosidade”, diz Clair, que há cerca de dois anos foi convidada por amigas a frequentar um curso que ensinava as práticas do artesanato com fibra de bananeira.

ATIVIDADE PRÁTICA

“Quando fiquei sabendo do curso fui lá, junto de conhecidas, para ver como era feito, pois nunca havia tido nenhum tipo de contato com essa prática de artesanato antes. E posso dizer que fui lá, e gostei”, narra a artesã, destacando ser uma das poucas participantes do curso que continua até hoje realizando este trabalho. 

“Para mim, isso se tornou um hobby, uma verdadeira terapia”, completa ela, salientando, também, que a confecção de produtos como bolsas, pufes, chapéus, bandejas, suportes e cestas possibilitam assegurar uma renda familiar extra. “Com esse dinheiro que entra, sempre dá para comprar um sapato, uma calça ou uma outra coisinha, sem mexer na renda mensal”, conta.

A curiosidade levou Clair a conhecer o artesanato com fibra de bananeira. Lá ela tomou gosto pela atividade e decidiu frequentar o curso gratuito - cuja duração foi de 180 horas. Formada, a então artesã passou a pôr em prática o trabalho. Não durou muito e ela, quase sem perceber, estava produzindo para vender.

“Resolvi me dedicar. Encontrei tempo, com ajuda de meu marido, na rotina de tarefas para preparar as fibras e produzir com elas. Aproveito para confeccionar em dias chuvosos, finais de semana e em horas de folga”, comenta ela, revelando já ter vendido para pessoas de São Paulo e Florianópolis. “Tenho uma irmã que mora em São Paulo, e ela levou algumas bolsas lá e vendeu todas. O mesmo fez meu filho que mora em Florianópolis”. Além disso, hoje uma amiga de Clair, que reside em Guaraciaba-SC, eventualmente revende alguns trabalhos da artesã na cidade.

NEGÓCIOS

Para intensificar a divulgação do trabalho com fibra de bananeira, desde março deste ano a artesã se tornou uma sócia da Feira Livre Municipal. Lá ela expõe alguns dos produtos que confecciona. “O que geralmente é mais vendido são as bolsas produzidas em variados tamanhos”, comenta ela, que expõe os produtos três vezes por semana no espaço de vendas da feira.

PRODUÇÃO

Alguns pés de bananeira na propriedade de Clair garantem matéria-prima para que ela desenvolva suas atividades com as fibras da planta. “Primeiro, esperamos a bananeira produzir. Depois, aproveitamos o tronco para retirar as fibras”. Com os brotos do caule são produzidas fibras de diferentes graus de maciez, fabricando fios e tecidos com diferentes qualidades para usos específicos. “As fibras podem ser mais rígidas ou macias, assim a artesã escolherá a que melhor se amolda ao tipo de trabalho que deseja realizar”, explica.

Fazendo um cálculo médio, um tronco considerado grande pode render até 3 kg de fibra. Com essa quantidade, a artesã estima ser possível produzir de seis a oito peças. “Dependendo do tamanho, dá pra fazer umas oito bolsas de umas 300 gramas”.

Após o corte do caule da bananeira, Clair explica que o mesmo deve secar por até três dias sob o sol. “É muito importante observar a previsão do tempo, porque se chover vai comprometer toda a extração. Com muita umidade os troncos tendem a apodrecer”, alerta ela.

Depois deste processo de secagem, com a ajuda do marido, ela leva o tronco para ser cortado e desfiado. “Geralmente são cinco camadas de fibra, cada uma delas é usada para fazer um tipo de produto específico”. A produção tende a ser melhor realizada em períodos quentes e de poucas chuvas.

PERSPECTIVA

Clair mudou hábitos e incorporou novas atividades às práticas rotineiras diárias. A mudança trouxe novas possibilidades, algumas inesperadas. Ela ainda não sabe ao certo se investirá mais na produção, mas não descarta a ideia de, quem sabe, futuramente abrir um negócio específico que trabalhe com a comercialização dos produtos feitos com fibra de bananeira. “Já recebi convites de proprietários de lojas para negociarmos uma comercialização e vou analisar essa possibilidade”, finaliza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário