Ações preventivas continuam sendo as melhores opções para se precaver de problemas. Confira como medidas simples podem garantir armazenagem de água para períodos de seca
Foto: Fernando Dias
Dalmas abre rapidamente o registro para mostrar a vasão de água da cisterna: “Não da pra desperdiçar” |
Em um momento onde o foco do governo e de boa parte da população do oeste e extremo oeste catarinense se volta para uma possível solução que amenize os prejuízos causados pela estiagem que chegam a R$ 400 milhões no campo, eis que isso tudo nos leva a pensar: sabemos que estamos em um período propício para enfrentar condições climáticas adversas.
Não é de hoje que o verão brasileiro se caracteriza por chuvas mal distribuídas em boa parte do território nacional. Basta acompanhar o noticiário e constatar, principalmente Minas Gerais e Rio de Janeiro sofrem com as quantidades alarmantes de chuvas. Por outro lado o Sul do Brasil mais uma vez sente os efeitos da estiagem que acomete a agricultura.
Mais uma vez fica evidente que faltou certo cuidado com a prevenção. Em geral, no Brasil depois que se constatou o prejuízo, é que o governo vai atrás. As perdas com a seca se repetem por falta de planejamento e prevenção, funções básicas de qualquer governo. Não é de hoje que a agricultura e os moradores do extremo oeste vem sendo afetados pela estiagem. Em 2009 a região vivia o mesmo drama: falta de água potável para o consumo humano e animal, perdas nas plantações e distribuição de água via caminhão pipa. De lá para cá poucas foram as medidas preventivas realizadas.
“PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR”
Que a prevenção é a solução de muitos possíveis problemas todos sabemos, mas poucos aplicamos esse conceito na prática. No entanto, alguns agricultores do extremo oeste catarinense com apoio e incentivo de extensionistas da Epagri começam a mudar um pouco os parâmetros e a forma de pensar, e assim buscam medidas preventivas para se precaver da falta de água em períodos de estiagem.
Um exemplo disso é o que ocorre na linha São Valentin, interior de Descanso, município que calcula perdas superiores a R$ 9 milhões na agricultura devido a seca. Na propriedade do agricultor David Dalmas, há dois anos foi instalada uma cisterna no aviário. Conforme explica o extensionista da Epagri de Descanso, Vilmar Milani, uma cisterna é um reservatório de águas pluviais, onde os benefícios são o aproveitamento da água da chuva não apenas para a alimentação (depois do tratamento) e limpeza, mas também para a irrigação. Em geral, as cisternas são muito utilizadas em regiões semiáridas ou onde a falta de chuva é propensa.
“A falta de água era frequente em nossos aviários. Fazer um poço artesiano não era garantia. Então para que a família permanecesse na atividade da criação de frango para corte optamos em investir em uma cisterna. Expandir os aviários só seria possível com uma garantia de água para os animais”, diz Dalmas.
Filho de Dalmas mostra a cisterna com capacidade para 800 mil litros |
Nessa época do ano em que o calor é constante, Dalmas destaca que o consumo da água armazenada na cisterna chega a ser três vezes maior que no inverno. “Em dias quentes são gastos em média mais de 35 mil litros de água, cerca de um litro por frango”, calcula.
INVESTIMENTO
O agricultor da linha São Valentin precisou financiar R$ 27 mil para construir a cisterna. O extensionista da Epagri de Descanso explica que o investimento na construção do reservatório pluvial se dá basicamente na aquisição de canaletas, filtro, tubos, manta para vedação e o pré-moldado. “A manta de vedação serve para isolar e deixar a água no escuro dentro do reservatório, assim se evita proliferação de algas e bichos”, diz.
O sistema de filtragem também garante que a água se mantenha em condições ideais para o consumo animal. Em geral, Dalmas utiliza a água recolhida para tratar os animais e também na pulverização do aviário, que garante uma temperatura amena para o desenvolvimento das aves.
“Precisamos divulgar esse trabalho e alertar ainda mais os agricultores que armazenar a água é uma boa alternativa e um bom investimento. A pecuária e agricultura na região têm crescido e o armazenamento de água deve atender esse crescimento. Já que a tendência daqui para frente é que se aumente o consumo de água diminuindo as reservas naturais existentes”, ressalta Milani.
APOIO
Na opinião de Dalmas o governo Federal deveria propor subsídios de ao menos 50% para que produtores pudessem garantir a construção de cisternas na propriedade. “Seria bom para o agricultor e para o Estado que assim teria garantia de retorno. Se eu não tivesse conseguido financiamento não teria dinheiro para construir esse sistema que garantiu até 20% a melhora da nossa renda”, destaca.
A cisterna na propriedade do agricultor retardou os prejuízos da estiagem, o que já é um grande negócio. Mas, mesmo com a cisterna, Dalmas comenta que se não chover nos próximos dias precisará contratar um caminhão pipa para garantir a água no reservatório e assim assegurar o desenvolvimento do próximo lote de aves.
A opção de cisternas é apenas uma dentre outras possíveis alternativas que podem garantir a reserva de água da chuva na propriedade de agricultores do extremo oeste catarinense. Inúmeras são as ações preventivas que podem garantir um impacto menos danoso no campo, governo e sociedade precisam abrir os olhos para essa situação para que não soframos mais com essa ação da natureza que pode ser prevista. Dinheiro só não basta, precisamos de medidas preventivas. Aí fica a pergunta: como será nos próximos verões? Enfrentaremos mais uma vez os mesmos problemas de hoje?
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