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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Fartura na produção e colheita de morangos



Estufa com plantação suspensa de morangos é aposta de renda extra para casal de agricultores do interior de São Miguel do Oeste


"Nossa ideia em princípio era fazer uma estufa para trabalhar com hortaliças. Mas acabamos conhecendo a produção de morangos e decidimos apostar então nesse ramo", conta o agricultor Valdir Berghahn, morador de linha Fátima, interior de São Miguel do Oeste.

Há cerca de seis meses, ele e a esposa Jurilde, com ajuda de um financiamento rural, construíram ao fundo da residência uma estufa de sete metros de largura por 30 m de comprimento. Montada para ser um local onde o casal plantaria hortaliças verdes para a comercialização, a estufa acabou servindo para outra finalidade: a produção de morangos.


"O mercado é crescente na região. Quem produzir com qualidade terá vendas e retorno garantido" destaca o engenheiro agrônomo especialista em fruticultura e chefe do Cetresmo (Centro de Treinamento da Epagri de São Miguel do Oeste), Loenir José Loro. Mesmo não apresentando características científicas de uma fruta, o morango, conforme explica o especialista, está enquadrado nesse crescente mercado da fruticultura. "De certa forma, a ideia de se plantar hortaliças por parte do casal permaneceu, porque muitos especialistas consideram que o morango também seja uma hortaliça", ressalta.

A ideia de investir em morangueiros partiu de um dos filhos do casal que viu uma estrutura semelhante em uma propriedade agrícola de Anchieta-SC. "Fomos então até lá para conhecer um pouco sobre o funcionamento do sistema", conta Jurilde. A visita animou o casal e fez com que eles retornassem a São Miguel do Oeste com uma certeza: investiriam na produção de moranguinhos.

VALORES E PRODUÇÃO

Certos de que o cultivo de morangos seria a nova atividade agrícola a ser realizada na propriedade rural, o casal Berghahn passou então a pesquisar onde poderiam adquirir mudas de morangueiros que melhor produzissem na região. "Optamos, depois de auxílios de técnicos, por três variedades diferentes. Duas vindas do Chile e uma da Argentina", destaca Valdir, que possui na estufa atualmente em torno de três mil pés de morangos.


Cada muda da planta sai por cerca de R$ 0,60. Segundo o agricultor, que iniciou recentemente a colheita, há na estufa morangueiros que chegam a carregar com até 25 "frutas". "Já colhemos um único morango que chegou a pesar 46 gramas", recorda ele orgulhoso.

Ao todo, o casal disse ter investido na nova estrutura e aquisição das mudas cerca de R$ 13 mil, com financiamento para pagar em dez anos. Segundo dados do produtor, o quilo de morangos hoje em estabelecimentos como feiras e supermercados é vendido a R$ 12 (ou 250 gramas por R$ 3). "Também comercializamos aqui em casa pelo preço de R$ 10 o quilo", comenta ele, destacando que mesmo há pouco tempo na atividade já sente uma boa procura por parte dos compradores.

PRECAUÇÃO

O especialista em fruticultura destaca, contudo, que antes de se iniciar uma atividade prática, como o cultivo de morangos, é imprescindível buscar conhecimento específico e se possível realizar cursos de manejo e produção. "Isso serve para dar garantia aos produtores caso venham a enfrentar alguma adversidade no desenvolvimento e produção das mudas, já que na região temos poucos agrônomos especialistas em fruticultura, o que de certa forma dificulta o auxílio aos agricultores interessados nesse tipo de cultivar", alerta ele.

O casal Berghahn "sentiu na pele" a aflição de passar por infortúnios durante o processo de manejo das plantas. "Ficamos preocupados, pois algumas plantas começaram a morrer; foi aí que recorremos à ajuda do especialista, que nos orientou", ressalta Jurilde.

"Na verdade, o que ocorreu com eles foram problemas de manejo devido a períodos contínuos de chuva e a consequente umidade do ar, visto que algumas plantas apodreceram. Então, percebemos que deveria ser redosada a quantidade de água, aplicando assim um controle mais rígido", explica Loro.

SISTEMA

Dentro da estufa o casal trabalha com o sistema de morangos suspensos (a um metro do chão), onde as plantas não entram em contato com o solo. "Os morangos são plantados em bolsas com substrato, o qual geralmente é composto por resíduos de casca de pinos, turfa ou fibra de coco decomposto. Um sistema de gotejamento também foi feito para regar as plantas. A estufa ainda protege os morangueiros do vento intenso e da chuva, permitindo que os agricultores passem a realizar a colheita a qualquer tempo", esclarece o agrônomo.

Em função de as plantas não terem contato com o solo, Loro destaca que o agricultor então pode abrir mão de fungicidas e inseticidas, contudo, mesmo livre de fortes produtos químicos, os frutos não são considerados orgânicos. "É um produto limpo, mas para ser orgânico necessita primeiro de certificação e o não uso de nitrato [que eventualmente é usado pelo agricultor] e em alguns casos nem mesmo é permitido o uso do plástico que cobre a estufa", ressalta.

RENTABILIDADE


Mesmo colhendo e comercializando há pouco mais de dois meses, os agricultores já fazem as contas quanto ao retorno financeiro. "Nossa expectativa é de colher meio quilo de morango por pé durante o ano, isso se não tivermos nenhum problema de manejo", almeja Valdir, que diz dedicar cerca de uma hora e meia por dia para manter o bom funcionamento das plantas dentro da estufa.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Apaeanos se mobilizam pelo não fechamento das Escolas Especiais


Proposta de fechamento das Apaes está determinada no PNE e contraria opinião de pais e professores de alunos especiais 


Mais uma vez, o Governo Federal traz à tona a discussão sobre o possível fim das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). A proposta de fechamento das Escolas Especiais está determinada no PNE (Plano Nacional de Educação), que aguarda votação no Senado Federal. Conforme o texto original do PNE, estudantes com deficiência devem ser matriculados no ensino regular, com o objetivo de possibilitar a inclusão desses alunos na sociedade. Contudo, as Apaes questionam essa determinação por acreditarem que as escolas regulares, principalmente as da rede pública, não estão preparadas para receber alunos especiais.

“Acredito não ser possível que todos os alunos da Apae tenham condições de migrar para o ensino regular, e isso porque os serviços disponíveis em uma Apae geralmente não estão presentes em uma escola do ensino regular”, diz a professora da Apae de São Miguel do Oeste, Adriana Montovani.

Conforme a professora, a grande maioria dos 111 alunos da Apae de São Miguel do Oeste, que também atende os municípios de Bandeirante, Barra Bonita e Paraíso, estão em processo de envelhecimento, o que dificultaria a entrada deles no ensino regular.

“Esses estudantes muito provavelmente teriam que frequentar o Ceja (Centro de Educação de Jovens e Adultos), até porque já passaram da idade escolar. Seria inviável colocar pessoas de 30, 40 anos junto com crianças ou jovens no ensino regular. Já tivemos alunos com necessidades especiais matriculados no Ceja, mas que não puderam se beneficiar do ensino, não obtendo rendimentos satisfatórios de alfabetização e isso porque não se dispõe de um professor qualificado no Ceja que dê suporte ao Ensino Especial. Por isso da importância de eles permanecerem aqui na Apae”, destaca.

Segundo a professora, há cerca de dez anos grande parte de jovens e crianças, entre quatro e 17 anos, que adentram na Apae são educados a serem inseridos no ensino regular. “Eles chegam na Escola Especial para a estimulação, logo depois são encaminhados à Creche, ao Pré, ao Ensino Fundamental e Médio e podem conciliar as duas escolas”.

PAIS PREOCUPADOS

O anúncio do fim das Apaes trouxe preocupação para muitos pais que possuem filhos com necessidades especiais. A dona de casa Cleonice Zitkoski tem uma filha que frequenta a Escola Especial há 23 anos. “Não acho correto acabar com a Apae. Mas, reconheço o direito dos alunos que têm condições de frequentar o ensino regular”, opina ela.

“Eu mesma já fiz a pergunta para minha filha: - Você iria somente para o ensino regular? Ela não aceitou, porque a Apae é o mundo dela. Depois que fomos informadas dessa proposta que acaba com as Apaes, percebi o medo e o pavor dela em não poder mais frequentar esse espaço. Eu acho até que ela gosta de ficar mais na Escola Especial do que na própria casa”, diz a mãe.

Cleonice destaca que a vontade da filha é de não frequentar unicamente o ensino regular, abrindo mão da Apae. “Se acabassem com as Apaes teria que manter minha filha em casa e muito provavelmente à base de medicamentos”, avalia.

MOBILIZAÇÃO

Na semana passada, Apaes de várias partes do Brasil realizaram uma mobilização em busca do reconhecimento como escolas de ensino regular no PNE. Na região, apaeanos de Palma Sola-SC saíram às ruas pedindo o não fechamentos das Escolas Especiais. Representantes da Federação das Apaes de Santa Catarina também se mobilizaram e levaram à Assembleia Legislativa um documento, no qual apresentam sugestões para a redação do Plano, permitindo o reconhecimento das Apaes como escolas.

“Se o governo custeasse essa proposta seria interessante, já que possibilitaria aos pais a opção de escolher em que tipo de escola matricularia o filho com necessidades especiais”, diz o atual presidente da Apae de São Miguel do Oeste, Darcísio Klein.

Klein também tem uma filha que frequenta a Apae há mais de 20 anos. “Minha filha, que tem Síndrome de Down, chegou a cursar o ensino regular, mas na época não havia professores especializados para orientar os alunos com necessidades especiais e isso dificultou a aprendizagem dela. É preciso um suporte de professores especializados e de uma infraestrutura adequada, caso contrário não será uma iniciativa eficiente”, destaca o presidente.

O reconhecimento de entidade como escola regular permitiria que as associações de todo o Brasil tivessem acesso a mais recursos. “Temos um trabalho em educação desenvolvido há 59 anos que é referência no mundo. Mesmo assim, as Apaes ainda enfrentam dificuldades financeiras e dependem do trabalho de milhares de associados e voluntários para se manterem”, disse o presidente da Federação das Apaes de Santa Catarina, Júlio César de Aguiar.

“Achamos importante que alunos especiais estejam no ensino regular, mas desde que eles tenham condições de estarem lá. Nosso trabalho na Apae é diferenciado, mais individualizado. Aqui, o aluno recebe outros atendimentos, de profissionais como psicólogos a fonoaudiólogos e pedagogos, e temos uma outra forma de trabalhar pedagogicamente”, completa a orientadora pedagógica da Apae de São Miguel do Oeste, Rosani Finnwathier.

ASSEMBLEIA

O presidente da Assembleia Legislativa de Santa Cataina, deputado Joares Ponticelli, demonstrou preocupação com a situação. Ele encaminhou o documento entregue pela federação à Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que discutirá o assunto. “Certamente vamos nos manifestar perante o Congresso para que as Apaes não sejam prejudicadas”, disse ele.

O deputado José Nei Ascari garantiu que a comissão vai se mobilizar em torno do pedido da entidade. “Vamos fazer pressão para que se tome a melhor decisão em Brasília. Esse relevante trabalho das Apaes não pode ser prejudicado”.

Já o deputado federal Rogério “Peninha” Mendonça disse que se o Congresso não alterar a ‘Meta 4’ do PNE, as Apaes perderão os poucos recursos que ainda recebem, como PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) e Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica). “Além disso, a Educação Especial não poderá mais contar com os professores cedidos pelas secretarias de Educação e tantas outras parcerias que atualmente são celebradas”, lamentou Peninha. Ele ainda lembrou que o PNE, que deverá ser votado pelos senadores nas próximas semanas, serve como diretriz para todas as políticas educacionais do país para os próximos dez anos

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Curiosidade que trouxe renda familiar extra


Sem pretensões, mas instigada pela curiosidade, agricultora faz curso de produção com fibra de bananeira, atividade que hoje se tornou um hobby e a trouxe retorno financeiro extra


Falta de tempo, correria e pressa são algumas das principais queixas do mundo moderno. Quebrar o ritmo frenético e mudar os hábitos do dia a dia têm se revelado, cada vez mais, um verdadeiro desafio para todos nós. Quantas vezes nos pegamos pensando em adicionar uma atividade extra à nossa rotina - um curso de idiomas, um exercício físico, ou até mesmo um hobby, como a pintura ou o artesanato - mas por falta de tempo recuamos e acabamos por adiar, não efetuando mudanças que lá na frente poderiam significar mais qualidade de vida, um grau maior de conhecimento, satisfação pessoal e até mesmo renda extra.

O trabalho, os afazeres, os compromissos pessoais, a educação e o bem-estar de nossos filhos demandam dedicação e esforços que muitas vezes tomam boa parte das horas de nosso dia. Nossa semana, salvo raras exceções, está sempre comprometida, e quando nos sobra um “tempinho” preferimos descansar, dormir ou relaxar. Dividir em horários específicos as atividades desempenhadas diariamente, ou quebrar a rotina, não é uma prática simples de ser aplicada, exige determinação, dedicação e principalmente força de vontade.

CURIOSIDADE

Porém, às vezes, uma dose certa de curiosidade pode nos determinar a encontrar tempo para introduzirmos uma atividade incomum aos nossos hábitos. Mais do que isso, essa dose - de curiosidade - pode nos impulsionar a encontrarmos força de vontade para reprogramar nossas práticas e adicionar novas prestezas às horas de nossos dias.

Curiosidade: não à toa estamos agora falando sobre ela, afinal foi por intermédio do desejo de aprender - característica marcante de uma pessoa curiosa - que a agricultora, dona de casa e mais recentemente artesã, Clair Maria Fritzen, moradora da linha Três Curvas, São Miguel do Oeste, decidiu quebrar a rotina de trabalho diário e encontrar tempo para se dedicar ao artesanato. Um artesanato conhecido - mas pouco confeccionado no extremo oeste catarinense - cuja matéria-prima é a fibra de bananeira, material considerado extremamente importante para tecidos de alta qualidade. No Japão, o cultivo de banana para vestuário e uso doméstico remonta pelo menos ao ano de 1200 d.C.

“Fui atraída por essa atividade mais pela curiosidade”, diz Clair, que há cerca de dois anos foi convidada por amigas a frequentar um curso que ensinava as práticas do artesanato com fibra de bananeira.

ATIVIDADE PRÁTICA

“Quando fiquei sabendo do curso fui lá, junto de conhecidas, para ver como era feito, pois nunca havia tido nenhum tipo de contato com essa prática de artesanato antes. E posso dizer que fui lá, e gostei”, narra a artesã, destacando ser uma das poucas participantes do curso que continua até hoje realizando este trabalho. 

“Para mim, isso se tornou um hobby, uma verdadeira terapia”, completa ela, salientando, também, que a confecção de produtos como bolsas, pufes, chapéus, bandejas, suportes e cestas possibilitam assegurar uma renda familiar extra. “Com esse dinheiro que entra, sempre dá para comprar um sapato, uma calça ou uma outra coisinha, sem mexer na renda mensal”, conta.

A curiosidade levou Clair a conhecer o artesanato com fibra de bananeira. Lá ela tomou gosto pela atividade e decidiu frequentar o curso gratuito - cuja duração foi de 180 horas. Formada, a então artesã passou a pôr em prática o trabalho. Não durou muito e ela, quase sem perceber, estava produzindo para vender.

“Resolvi me dedicar. Encontrei tempo, com ajuda de meu marido, na rotina de tarefas para preparar as fibras e produzir com elas. Aproveito para confeccionar em dias chuvosos, finais de semana e em horas de folga”, comenta ela, revelando já ter vendido para pessoas de São Paulo e Florianópolis. “Tenho uma irmã que mora em São Paulo, e ela levou algumas bolsas lá e vendeu todas. O mesmo fez meu filho que mora em Florianópolis”. Além disso, hoje uma amiga de Clair, que reside em Guaraciaba-SC, eventualmente revende alguns trabalhos da artesã na cidade.

NEGÓCIOS

Para intensificar a divulgação do trabalho com fibra de bananeira, desde março deste ano a artesã se tornou uma sócia da Feira Livre Municipal. Lá ela expõe alguns dos produtos que confecciona. “O que geralmente é mais vendido são as bolsas produzidas em variados tamanhos”, comenta ela, que expõe os produtos três vezes por semana no espaço de vendas da feira.

PRODUÇÃO

Alguns pés de bananeira na propriedade de Clair garantem matéria-prima para que ela desenvolva suas atividades com as fibras da planta. “Primeiro, esperamos a bananeira produzir. Depois, aproveitamos o tronco para retirar as fibras”. Com os brotos do caule são produzidas fibras de diferentes graus de maciez, fabricando fios e tecidos com diferentes qualidades para usos específicos. “As fibras podem ser mais rígidas ou macias, assim a artesã escolherá a que melhor se amolda ao tipo de trabalho que deseja realizar”, explica.

Fazendo um cálculo médio, um tronco considerado grande pode render até 3 kg de fibra. Com essa quantidade, a artesã estima ser possível produzir de seis a oito peças. “Dependendo do tamanho, dá pra fazer umas oito bolsas de umas 300 gramas”.

Após o corte do caule da bananeira, Clair explica que o mesmo deve secar por até três dias sob o sol. “É muito importante observar a previsão do tempo, porque se chover vai comprometer toda a extração. Com muita umidade os troncos tendem a apodrecer”, alerta ela.

Depois deste processo de secagem, com a ajuda do marido, ela leva o tronco para ser cortado e desfiado. “Geralmente são cinco camadas de fibra, cada uma delas é usada para fazer um tipo de produto específico”. A produção tende a ser melhor realizada em períodos quentes e de poucas chuvas.

PERSPECTIVA

Clair mudou hábitos e incorporou novas atividades às práticas rotineiras diárias. A mudança trouxe novas possibilidades, algumas inesperadas. Ela ainda não sabe ao certo se investirá mais na produção, mas não descarta a ideia de, quem sabe, futuramente abrir um negócio específico que trabalhe com a comercialização dos produtos feitos com fibra de bananeira. “Já recebi convites de proprietários de lojas para negociarmos uma comercialização e vou analisar essa possibilidade”, finaliza.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Um problema cada vez mais iminente desafia motoristas


Ter a sorte de estar no local e na hora certa. Só dessa forma para motoristas conseguirem vagas de estacionamento no centro de São Miguel do Oeste


Na última década, São Miguel do Oeste apresentou um crescimento populacional de mais de quatro mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O município foi um dos poucos da região extremo oeste catarinense que registrou crescimento populacional, saltando de 32 mil habitantes (2000) para 36 mil (2010). 

Esse aumento traz vários tipos de reflexos ao município. Um deles está diretamente relacionado ao trânsito. Quanto mais habitantes maior é o número de veículos. Não à toa, São Miguel do Oeste ostenta uma frota de 25.839 veículos emplacados, segundo levantamento feito pelo Detran/SC (Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina). Assim sendo, os números apontam 1,4 veículos para cada habitante, uma média considerada extremamente alta no Estado.

Nas ruas centrais da cidade, onde há um maior número de lojas, não há praticamente mais vagas onde estacionar. Para piorar, São Miguel do Oeste não possui zona azul (o chamado estacionamento rotativo), sendo assim é muito comum cidadãos estacionarem os carros no centro e lá deixarem seus veículos até o final do dia. Essa atitude, no entanto, gera alguns conflitos, já que todos se acham no direito de estacionar aqui ou ali, ação que em muitos casos provoca mal-estar entre comerciantes e moradores vizinhos.

Já houve casos, inclusive, de comerciantes obstruírem vagas de estacionamento público com cones, o que é considerado ilegal, já que não existe preceito que justifique essa prática para reserva de vagas nas ruas. Todos que pagam impostos municipais têm direito de utilizar o estacionamento público, independentemente de serem comerciários ou cidadãos comuns, salvo exceções como, vagas especiais destinadas a deficientes físicos, idosos ou de emergência (no caso de farmácias, por exemplo).

“Tem dias que é impossível achar estacionamento, principalmente quando chove, temos que dar umas três voltas na quadra para conseguir uma vaga”, diz o vendedor Moacir Flores, de 45 anos. “Na minha opinião, o trânsito de São Miguel teria que ser resolvido logo, através desse estacionamento rotativo, porque com certeza iria melhorar muito para todos”, salienta ele.

POR QUE AINDA NÃO TEMOS ZONA AZUL?

“Só mesmo na sorte para conseguir estacionar no centro”
Segundo informações da Administração Municipal de São Miguel do Oeste, a Secretaria de Planejamento trabalha, atualmente, na elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável, projeto esse que trata da implantação da zona azul na cidade. Conforme Cássio Augusto da Silva, diretor de trânsito da prefeitura municipal e membro do Cotrasmo (Conselho de Trânsito de São Miguel do Oeste), num prazo de até dois anos, mais de 1.600 municípios brasileiros, com mais de 20 mil habitantes, deverão ter definido o plano, sob pena de não acessarem recursos federais a partir de 2015. “Para isso, está sendo estudada na adesão do plano uma maneira que encontre embasamento legal para instituir essa medida relacionada ao estacionamento rotativo”, destaca.

Contudo, de acordo com o diretor de trânsito e membro do Cotrasmo, será uma audiência pública (sem data estipulada) que determinará a implantação da zona azul na cidade. “O propósito é respeitar a decisão e a opinião da comunidade quanto ao assunto”, frisou ele.

MEDIDAS

“Sabemos que com esse número de veículos no município se faz necessária uma política eficaz no que diz respeito às vagas de estacionamento”, diz Silva. “Contudo, é importante salientar que não somente o estacionamento rotativo trará soluções para esse problema. Precisamos preparar a cidade para ter mais vias de mão única, e trazer com isso os estacionamentos oblíquos para os dois lados da rua, aumentando o número de vagas. Ainda é preciso estabelecer campanhas educativas e meios de transporte alternativos, como a condução urbana e a bicicleta, por exemplo”, sugere.

COMÉRCIO

Uma das funções primárias da zona azul é a de equilibrar o direito a vagas de estacionamento, onde a demanda é grande, ou seja, em lugares onde há mais veículos do que estacionamentos disponíveis. “Essa é uma medida que já deveria estar implantada no município”, diz o presidente da Acismo (Associação Comercial e Industrial de São Miguel do Oeste), Irton Lamb. “Há vários anos esse assunto vem sendo discutido. A Acismo é completamente favorável, desde que antes haja um estudo de viabilidade. Queremos ser parceiros para achar uma solução para essa questão, e dessa forma ajudar a diminuir o fluxo de veículos em frente aos estabelecimentos comerciais, facilitando a vida de quem compra e de quem vende”, comenta.
Para Lamb, ruas como a Santos Dumont, Almirante Tamandaré e 15 de Novembro precisam urgentemente de medidas para o estacionamento.   

O EXEMPLO DE CONCÓRDIA

O estudo de caso e a implantação da zona azul no trânsito em São Miguel do Oeste será definido, como disse Silva, depois de uma audiência pública. Contudo, ele adiantou que a Administração Municipal migueloestina já estuda o funcionamento do estacionamento rotativo de Concórdia-SC. “Concórdia é a cidade que tem zona azul e que mais se assemelha a São Miguel, nossa ideia é implantar algo parecido com o sistema deles por aqui”, revela. 

Em Concórdia, município com quase o dobro de habitantes de São Miguel do Oeste, o estacionamento rotativo funciona há mais de dez anos. “Em 2003, implantamos um projeto de estacionamento rotativo e fizemos uma concessão pública para que uma empresa particular fizesse a operação da zona azul. Na ocasião, a empresa vencedora ganhou concessão para atuar por cinco anos. Em 2008, realizamos outra licitação, onde a mesma empresa ganhou”, conta o secretário de Urbanismo e Obras da prefeitura municipal de Concórdia, Mauri Maran.

Conforme Maran, a empresa vencedora emprega cerca de 40 funcionários e repassa mensalmente R$ 11,5 mil à prefeitura (a partir da metade do ano esse valor passará para R$ 30 mil, já que uma nova empresa de Goiânia/GO venceu a licitação desse ano). Esse dinheiro, segundo ele, é todo aplicado em melhorias no trânsito do município. “O lucro da empresa vencedora é obtido exclusivamente da venda dos cartões da zona azul”, destaca.

Atualmente, os preços dos cartões para o estacionamento rotativo em Concórdia, de acordo com o secretário, saem por R$ 0,90 uma hora e R$ 0,45 meia hora. Na cidade, estão disponíveis cerca de 1.800 estacionamentos rotativos que operam das 9h às 12h e das 13h30 às 17h de segunda a sexta-feira e aos sábados das 9h às 12h.

MULTAS

Segundo Maran, no caso de Concórdia, as multas pelo não cumprimento da compra dos cartões para zona azul não cabem aos funcionários da empresa, que apenas notificam os motoristas. “Temos quatro fiscais de trânsito que circulam pela cidade, são eles que aplicam as multas aos motoristas. Mas antes eles são autuados com uma notificação no valor de R$ 12,00 que deve ser paga em até 48 horas. Caso isso não ocorra, aí sim a notificação se transforma em multa de aproximadamente R$ 50,00 e a perda de três pontos na carteira”, explica.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Por que ainda não enxergamos a bicicleta como meio de transporte?

Considerada um prático e eficiente meio de transporte em países desenvolvidos, a bike ainda trás benefícios para sua saúde e para o meio ambiente

Nos tempos atuais está, relativamente, cada vez mais fácil adquirir um veículo motorizado, seja moto ou carro. Contudo, comprar uma bicicleta sempre foi muito mais acessível financeiramente. Apesar dessa facilidade, ainda não temos a cultura de utilizarmos a bicicleta como meio alternativo de transporte. E em alguns casos por vergonha e até preconceito.

"Aqui em São Miguel, infelizmente percebo que muitas pessoas não fazem uso da bicicleta exclusivamente como meio de transporte, elas usam mais para lazer mesmo. Alguns têm até vergonha, eu mesmo já ouvi piadas por usá-la, mas não ligo para o que os outros pensam, sei do bem que isso promove para mim e também para os outros, já que assim temos um veículo a menos circulando nas ruas. Imagina se todos ou a maioria fizessem isso?", diz o comerciante Fabiano Guerini, que adotou a bicicleta como meio alternativo de transporte há mais de meio ano. "Uso a bicicleta para vir para o trabalho e também para entregas, é muito mais prático e rápido", diz ele.

Em países com grandes populações como a Índia e a China, a bicicleta é usada como meio de transporte justamente por ser mais fácil adquiri-la e pelo baixo custo de manutenção. Mas nem sempre as pessoas com menos poder aquisitivo são as que optam por se locomover com bicicletas. Há aqueles que escolhem andar de bike porque sabem que fazendo isso, não estão agredindo o meio ambiente, já que a bicicleta não emite gases poluentes como a maioria dos veículos automotores.

"Ando de bicicleta primeiramente porque gosto, depois porque trás benefícios a minha saúde e também pela facilidade e rapidez de deslocamento, assim economizo tempo no meu dia a dia de trabalho. Claro que tem a questão do meio ambiente que também acabo contribuindo, poluindo bem menos", diz Guerini. "De carro e até mesmo de moto acaba gerando muito transtorno principalmente pela falta de estacionamento que temos aqui no centro da cidade", completa ele.

ESTRUTURA

Na Holanda há duas vezes mais bicicletas do que carros
Na Holanda, por exemplo, é a bicicleta que ocupa a posição de destaque em se tratando dos meios de transporte. Desse modo no país, evitam-se engarrafamentos e diminuem os acidentes de trânsito com vítimas fatais. É evidente, contudo, que o trânsito holandês é praticamente todo adaptado para ciclistas. Ciclovias e lugares propícios para deixar as bicicletas estacionadas são prioridades por lá.

O que é bem diferente daqui, já que nós brasileiros não temos nem de longe a mesma estrutura para podermos usar as bicicletas como meio alternativo de transporte. Esse inclusive é apontado como um dos principais motivos para que ela não seja tão popular nos centros urbanos do Brasil. Quem tenta se locomover com as bicicletas em nosso país acaba enfrentando algumas dificuldades, já que na maioria das vezes não há um ambiente apropriado destinado a elas, sendo assim, em muitos casos ciclistas acabam tendo que disputar espaço com os carros, o que eventualmente pode ser perigoso.

"Às vezes tenho que concorrer com os carros, e tem que tomar cuidado por que muitos motoristas não respeitam, e por falta de opção também tenho que muitas vezes andar na calçada, e nesse caso alguns pedestres não gostam. Em algumas situações acho que as pessoas podem até me enxergar como um vilão, mas não tem estrutura então não tem o que fazer, tem que ser desse jeito mesmo", cometa Guerini.
Ainda há cidades com terrenos altamente irregulares e que exigem força de quem pedala. O calor intenso no verão também é apontado como um empecilho para uso da bicicleta, já que ao pedalarmos sob um sol intenso ou estradas íngremes inevitavelmente suamos. Desse modo para muitos, usar a bike para se locomover para o trabalho, por exemplo, acaba sendo uma opção inviável.

SÃO MIGUEL DO OESTE

Comerciante, Fabiano Guerini
Não é preciso ser ciclista para perceber que assim como a maioria das cidades brasileiras, São Miguel do Oeste não oferece a menor estrutura para quem quer utilizar a bicicleta como meio alternativo de transporte. Para piorar esta situação, a cidade de acordo com o último levantamento feito pelo Detran/SC (Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina), em fevereiro do ano passado, é tida como uma das que mais possui automóveis e utilitários no Estado, com índice médio de um veículo para cada 1,4 habitante. 

O maior reflexo disso, como disse Guerini, está no centro da cidade, onde é praticamente impossível encontrar vagas de estacionamento em horário de expediente do comércio. A falta de estacionamento rotativo contribui para isso. Além disso, todos esses carros e motos colaboram para o aumento de acidentes, congestionamentos e poluição. Conforme o Detran/SC, somente em São Miguel do Oeste rodam quase 26 mil veículos (registrados) para uma população de mais de 36 mil habitantes.

BICICLETA BRASIL

Consciente de há uma crise de mobilidade que engloba as questões de transporte público e trânsito em boa parte dos grandes centros urbanos brasileiros, o Ministério das Cidades por meio da SeMob (Secretaria de Transporte e da Mobilidade Urbana) tem desenvolvido o conceito de Mobilidade Urbana Sustentável, que prioriza os modos de  transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente  sustentável. É uma abordagem que tem como principal foco o deslocamento das pessoas e não dos veículos. Como é o caso do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta - Bicicleta Brasil - onde a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos acaba sendo um elemento importante na implantação do conceito de Mobilidade Urbana Sustentável.

ESTÍMULO

O Bicicleta Brasil tem por finalidade estimular os Governos Municipais e Estaduais a desenvolver e aprimorar ações que favoreçam o uso da bicicleta como modo de transporte. Contudo, o Bicicleta Brasil não destina recursos para implantação de processos de planejamento ou infraestrutura para mobilidade utilizando bicicletas. Mesmo assim, gestores municipais ou estaduais podem solicitar recursos, em prol do uso da bicicleta, por meio dos seguintes programas: Programa 9989 - Mobilidade Urbana e o Programa 0660 - Segurança e Educação de Trânsito: Direito e Responsabilidade de Todos. Esses dois programas possuem recursos provenientes do OGU (Orçamento Geral da União). Programas de outras Secretarias do Ministério das Cidades podem contemplar ações relacionadas ao assunto como: o Programa 1136 - Fortalecimento da Gestão Urbana - Secretaria Nacional de Programas Urbanos e o Ação 2D49 - Apoio ao Desenvolvimento Institucional para a Gestão dos Sistemas de Mobilidade Urbana. Mais informações podem ser acessadas em www.cidades.gov.br. 

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

Conforme a profissional de Educação Física, especializada em Fisiologia do Exercício, Sandra Fachineto, pedalar pode ser considerada uma modalidade predominantemente aeróbia. "Significa dizer que para os músculos produzirem energia para a contração muscular, o organismo requer grande aporte de oxigênio. Por isso, nesta modalidade, o sistema cardiovascular é bastante requisitado assim como o músculo-esquelético, uma vez que as pedaladas solicitam força para vencer o percurso", explica ela.

Na verdade segundo Sandra, o ato de andar de bicicleta é uma das atividades mais completas quando se fala em exigência fisiológica e se praticada, regularmente, em longo prazo proporciona vários benefícios à saúde como:

- melhora sistema cardiovascular observado principalmente por uma diminuição nos valores de frequência cardíaca e de pressão arterial de repouso, prevenindo o desenvolvimento de futuras doenças cardíacas. Isto faz com que o coração gaste menos energia e se torne mais forte. Além disso, o ciclismo faz com que aconteça uma dilatação das artérias, relaxando-as, evitando sobrecarga cardíaca. Também melhora a oxigenação dos pulmões e dos tecidos corporais.

- por ser uma modalidade aeróbia contribui na queima de gordura, auxiliando na perda ou manutenção do peso corporal. Por consumir gordura também pode manter os níveis de triglicerídeos (gordura do sangue) e o colesterol ruim.

- para vencer os obstáculos, exige que o corpo produza força constante e com isso tonifica os músculos, principalmente, dos membros inferiores.

- além disso, também reduz o estresse e a ansiedade do dia a  dia uma vez que libera endorfina (um neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar em nosso organismo).

"Para que o ciclismo gere os benefícios fisiológicos a saúde é necessário que seja praticado pelo menos três vezes por semana com tempo mínimo de 30 a 60 minutos. O ideal é que se pratique exercícios aeróbios, como o ciclismo, cinco vezes por semana durante 30 minutos", aconselha a profissional.