Por que ainda não enxergamos a bicicleta como meio de
transporte?
Considerada um prático e eficiente meio de transporte em
países desenvolvidos, a bike ainda trás benefícios para sua saúde e para o meio
ambiente
Nos tempos atuais está, relativamente, cada vez mais fácil
adquirir um veículo motorizado, seja moto ou carro. Contudo, comprar uma
bicicleta sempre foi muito mais acessível financeiramente. Apesar dessa
facilidade, ainda não temos a cultura de utilizarmos a bicicleta como meio
alternativo de transporte. E em alguns casos por vergonha e até preconceito.
"Aqui em São Miguel, infelizmente percebo que muitas
pessoas não fazem uso da bicicleta exclusivamente como meio de transporte, elas
usam mais para lazer mesmo. Alguns têm até vergonha, eu mesmo já ouvi piadas
por usá-la, mas não ligo para o que os outros pensam, sei do bem que isso
promove para mim e também para os outros, já que assim temos um veículo a menos
circulando nas ruas. Imagina se todos ou a maioria fizessem isso?", diz o
comerciante Fabiano Guerini, que adotou a bicicleta como meio alternativo de
transporte há mais de meio ano. "Uso a bicicleta para vir para o trabalho
e também para entregas, é muito mais prático e rápido", diz ele.
Em países com grandes populações como a Índia e a China, a
bicicleta é usada como meio de transporte justamente por ser mais fácil
adquiri-la e pelo baixo custo de manutenção. Mas nem sempre as pessoas com
menos poder aquisitivo são as que optam por se locomover com bicicletas. Há
aqueles que escolhem andar de bike porque sabem que fazendo isso, não estão
agredindo o meio ambiente, já que a bicicleta não emite gases poluentes como a
maioria dos veículos automotores.
"Ando de bicicleta primeiramente porque gosto, depois porque
trás benefícios a minha saúde e também pela facilidade e rapidez de
deslocamento, assim economizo tempo no meu dia a dia de trabalho. Claro que tem
a questão do meio ambiente que também acabo contribuindo, poluindo bem
menos", diz Guerini. "De carro e até mesmo de moto acaba gerando
muito transtorno principalmente pela falta de estacionamento que temos aqui no
centro da cidade", completa ele.
ESTRUTURA
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Na Holanda há duas vezes mais bicicletas do que carros |
Na Holanda, por exemplo, é a bicicleta que ocupa a posição
de destaque em se tratando dos meios de transporte. Desse modo no país,
evitam-se engarrafamentos e diminuem os acidentes de trânsito com vítimas
fatais. É evidente, contudo, que o trânsito holandês é praticamente todo
adaptado para ciclistas. Ciclovias e lugares propícios para deixar as bicicletas
estacionadas são prioridades por lá.
O que é bem diferente daqui, já que nós brasileiros não
temos nem de longe a mesma estrutura para podermos usar as bicicletas como meio
alternativo de transporte. Esse inclusive é apontado como um dos principais
motivos para que ela não seja tão popular nos centros urbanos do Brasil. Quem
tenta se locomover com as bicicletas em nosso país acaba enfrentando algumas
dificuldades, já que na maioria das vezes não há um ambiente apropriado
destinado a elas, sendo assim, em muitos casos ciclistas acabam tendo que
disputar espaço com os carros, o que eventualmente pode ser perigoso.
"Às vezes tenho que concorrer com os carros, e tem que
tomar cuidado por que muitos motoristas não respeitam, e por falta de opção
também tenho que muitas vezes andar na calçada, e nesse caso alguns pedestres
não gostam. Em algumas situações acho que as pessoas podem até me enxergar como
um vilão, mas não tem estrutura então não tem o que fazer, tem que ser desse
jeito mesmo", cometa Guerini.
Ainda há cidades com terrenos altamente irregulares e que
exigem força de quem pedala. O calor intenso no verão também é apontado como um
empecilho para uso da bicicleta, já que ao pedalarmos sob um sol intenso ou
estradas íngremes inevitavelmente suamos. Desse modo para muitos, usar a bike
para se locomover para o trabalho, por exemplo, acaba sendo uma opção inviável.
SÃO MIGUEL DO OESTE
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Comerciante, Fabiano Guerini |
Não é preciso ser ciclista para perceber que assim como a
maioria das cidades brasileiras, São Miguel do Oeste não oferece a menor
estrutura para quem quer utilizar a bicicleta como meio alternativo de
transporte. Para piorar esta situação, a cidade de acordo com o último
levantamento feito pelo Detran/SC (Departamento Estadual de Trânsito de Santa
Catarina), em fevereiro do ano passado, é tida como uma das que mais possui
automóveis e utilitários no Estado, com índice médio de um veículo para cada
1,4 habitante.
O maior reflexo disso, como disse Guerini, está no centro da
cidade, onde é praticamente impossível encontrar vagas de estacionamento em
horário de expediente do comércio. A falta de estacionamento rotativo contribui
para isso. Além disso, todos esses carros e motos colaboram para o aumento de
acidentes, congestionamentos e poluição. Conforme o Detran/SC, somente em São Miguel
do Oeste rodam quase 26 mil veículos (registrados) para uma população de mais
de 36 mil habitantes.
BICICLETA BRASIL
Consciente de há uma crise de mobilidade que engloba as
questões de transporte público e trânsito em boa parte dos grandes centros urbanos
brasileiros, o Ministério das Cidades por meio da SeMob (Secretaria de
Transporte e da Mobilidade Urbana) tem desenvolvido o conceito de Mobilidade
Urbana Sustentável, que prioriza os modos de
transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva, socialmente
inclusiva e ecologicamente sustentável.
É uma abordagem que tem como principal foco o deslocamento das pessoas e não
dos veículos. Como é o caso do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta
- Bicicleta Brasil - onde a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos
acaba sendo um elemento importante na implantação do conceito de Mobilidade
Urbana Sustentável.
ESTÍMULO
O Bicicleta Brasil tem por finalidade estimular os Governos
Municipais e Estaduais a desenvolver e aprimorar ações que favoreçam o uso da
bicicleta como modo de transporte. Contudo, o Bicicleta Brasil não destina
recursos para implantação de processos de planejamento ou infraestrutura para
mobilidade utilizando bicicletas. Mesmo assim, gestores municipais ou estaduais
podem solicitar recursos, em prol do uso da bicicleta, por meio dos seguintes
programas: Programa 9989 - Mobilidade Urbana e o Programa 0660 - Segurança e
Educação de Trânsito: Direito e Responsabilidade de Todos. Esses dois programas
possuem recursos provenientes do OGU (Orçamento Geral da União). Programas de
outras Secretarias do Ministério das Cidades podem contemplar ações
relacionadas ao assunto como: o Programa 1136 - Fortalecimento da Gestão Urbana
- Secretaria Nacional de Programas Urbanos e o Ação 2D49 - Apoio ao
Desenvolvimento Institucional para a Gestão dos Sistemas de Mobilidade Urbana.
Mais informações podem ser acessadas em www.cidades.gov.br.
BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE
Conforme a profissional de Educação Física, especializada em
Fisiologia do Exercício, Sandra Fachineto, pedalar pode ser considerada uma
modalidade predominantemente aeróbia. "Significa dizer que para os
músculos produzirem energia para a contração muscular, o organismo requer
grande aporte de oxigênio. Por isso, nesta modalidade, o sistema cardiovascular
é bastante requisitado assim como o músculo-esquelético, uma vez que as
pedaladas solicitam força para vencer o percurso", explica ela.
Na verdade segundo Sandra, o ato de andar de bicicleta é uma
das atividades mais completas quando se fala em exigência fisiológica e se
praticada, regularmente, em longo prazo proporciona vários benefícios à saúde
como:
- melhora sistema cardiovascular observado principalmente
por uma diminuição nos valores de frequência cardíaca e de pressão arterial de
repouso, prevenindo o desenvolvimento de futuras doenças cardíacas. Isto faz
com que o coração gaste menos energia e se torne mais forte. Além disso, o
ciclismo faz com que aconteça uma dilatação das artérias, relaxando-as,
evitando sobrecarga cardíaca. Também melhora a oxigenação dos pulmões e dos
tecidos corporais.
- por ser uma modalidade aeróbia contribui na queima de
gordura, auxiliando na perda ou manutenção do peso corporal. Por consumir
gordura também pode manter os níveis de triglicerídeos (gordura do sangue) e o
colesterol ruim.
- para vencer os obstáculos, exige que o corpo produza força
constante e com isso tonifica os músculos, principalmente, dos membros
inferiores.
- além disso, também reduz o estresse e a ansiedade do dia
a dia uma vez que libera endorfina (um
neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar em nosso organismo).
"Para que o ciclismo gere os benefícios fisiológicos a saúde
é necessário que seja praticado pelo menos três vezes por semana com tempo
mínimo de 30 a 60 minutos. O ideal é que se pratique exercícios aeróbios, como
o ciclismo, cinco vezes por semana durante 30 minutos", aconselha a profissional.