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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Por que ainda não enxergamos a bicicleta como meio de transporte?

Considerada um prático e eficiente meio de transporte em países desenvolvidos, a bike ainda trás benefícios para sua saúde e para o meio ambiente

Nos tempos atuais está, relativamente, cada vez mais fácil adquirir um veículo motorizado, seja moto ou carro. Contudo, comprar uma bicicleta sempre foi muito mais acessível financeiramente. Apesar dessa facilidade, ainda não temos a cultura de utilizarmos a bicicleta como meio alternativo de transporte. E em alguns casos por vergonha e até preconceito.

"Aqui em São Miguel, infelizmente percebo que muitas pessoas não fazem uso da bicicleta exclusivamente como meio de transporte, elas usam mais para lazer mesmo. Alguns têm até vergonha, eu mesmo já ouvi piadas por usá-la, mas não ligo para o que os outros pensam, sei do bem que isso promove para mim e também para os outros, já que assim temos um veículo a menos circulando nas ruas. Imagina se todos ou a maioria fizessem isso?", diz o comerciante Fabiano Guerini, que adotou a bicicleta como meio alternativo de transporte há mais de meio ano. "Uso a bicicleta para vir para o trabalho e também para entregas, é muito mais prático e rápido", diz ele.

Em países com grandes populações como a Índia e a China, a bicicleta é usada como meio de transporte justamente por ser mais fácil adquiri-la e pelo baixo custo de manutenção. Mas nem sempre as pessoas com menos poder aquisitivo são as que optam por se locomover com bicicletas. Há aqueles que escolhem andar de bike porque sabem que fazendo isso, não estão agredindo o meio ambiente, já que a bicicleta não emite gases poluentes como a maioria dos veículos automotores.

"Ando de bicicleta primeiramente porque gosto, depois porque trás benefícios a minha saúde e também pela facilidade e rapidez de deslocamento, assim economizo tempo no meu dia a dia de trabalho. Claro que tem a questão do meio ambiente que também acabo contribuindo, poluindo bem menos", diz Guerini. "De carro e até mesmo de moto acaba gerando muito transtorno principalmente pela falta de estacionamento que temos aqui no centro da cidade", completa ele.

ESTRUTURA

Na Holanda há duas vezes mais bicicletas do que carros
Na Holanda, por exemplo, é a bicicleta que ocupa a posição de destaque em se tratando dos meios de transporte. Desse modo no país, evitam-se engarrafamentos e diminuem os acidentes de trânsito com vítimas fatais. É evidente, contudo, que o trânsito holandês é praticamente todo adaptado para ciclistas. Ciclovias e lugares propícios para deixar as bicicletas estacionadas são prioridades por lá.

O que é bem diferente daqui, já que nós brasileiros não temos nem de longe a mesma estrutura para podermos usar as bicicletas como meio alternativo de transporte. Esse inclusive é apontado como um dos principais motivos para que ela não seja tão popular nos centros urbanos do Brasil. Quem tenta se locomover com as bicicletas em nosso país acaba enfrentando algumas dificuldades, já que na maioria das vezes não há um ambiente apropriado destinado a elas, sendo assim, em muitos casos ciclistas acabam tendo que disputar espaço com os carros, o que eventualmente pode ser perigoso.

"Às vezes tenho que concorrer com os carros, e tem que tomar cuidado por que muitos motoristas não respeitam, e por falta de opção também tenho que muitas vezes andar na calçada, e nesse caso alguns pedestres não gostam. Em algumas situações acho que as pessoas podem até me enxergar como um vilão, mas não tem estrutura então não tem o que fazer, tem que ser desse jeito mesmo", cometa Guerini.
Ainda há cidades com terrenos altamente irregulares e que exigem força de quem pedala. O calor intenso no verão também é apontado como um empecilho para uso da bicicleta, já que ao pedalarmos sob um sol intenso ou estradas íngremes inevitavelmente suamos. Desse modo para muitos, usar a bike para se locomover para o trabalho, por exemplo, acaba sendo uma opção inviável.

SÃO MIGUEL DO OESTE

Comerciante, Fabiano Guerini
Não é preciso ser ciclista para perceber que assim como a maioria das cidades brasileiras, São Miguel do Oeste não oferece a menor estrutura para quem quer utilizar a bicicleta como meio alternativo de transporte. Para piorar esta situação, a cidade de acordo com o último levantamento feito pelo Detran/SC (Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina), em fevereiro do ano passado, é tida como uma das que mais possui automóveis e utilitários no Estado, com índice médio de um veículo para cada 1,4 habitante. 

O maior reflexo disso, como disse Guerini, está no centro da cidade, onde é praticamente impossível encontrar vagas de estacionamento em horário de expediente do comércio. A falta de estacionamento rotativo contribui para isso. Além disso, todos esses carros e motos colaboram para o aumento de acidentes, congestionamentos e poluição. Conforme o Detran/SC, somente em São Miguel do Oeste rodam quase 26 mil veículos (registrados) para uma população de mais de 36 mil habitantes.

BICICLETA BRASIL

Consciente de há uma crise de mobilidade que engloba as questões de transporte público e trânsito em boa parte dos grandes centros urbanos brasileiros, o Ministério das Cidades por meio da SeMob (Secretaria de Transporte e da Mobilidade Urbana) tem desenvolvido o conceito de Mobilidade Urbana Sustentável, que prioriza os modos de  transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente  sustentável. É uma abordagem que tem como principal foco o deslocamento das pessoas e não dos veículos. Como é o caso do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta - Bicicleta Brasil - onde a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos acaba sendo um elemento importante na implantação do conceito de Mobilidade Urbana Sustentável.

ESTÍMULO

O Bicicleta Brasil tem por finalidade estimular os Governos Municipais e Estaduais a desenvolver e aprimorar ações que favoreçam o uso da bicicleta como modo de transporte. Contudo, o Bicicleta Brasil não destina recursos para implantação de processos de planejamento ou infraestrutura para mobilidade utilizando bicicletas. Mesmo assim, gestores municipais ou estaduais podem solicitar recursos, em prol do uso da bicicleta, por meio dos seguintes programas: Programa 9989 - Mobilidade Urbana e o Programa 0660 - Segurança e Educação de Trânsito: Direito e Responsabilidade de Todos. Esses dois programas possuem recursos provenientes do OGU (Orçamento Geral da União). Programas de outras Secretarias do Ministério das Cidades podem contemplar ações relacionadas ao assunto como: o Programa 1136 - Fortalecimento da Gestão Urbana - Secretaria Nacional de Programas Urbanos e o Ação 2D49 - Apoio ao Desenvolvimento Institucional para a Gestão dos Sistemas de Mobilidade Urbana. Mais informações podem ser acessadas em www.cidades.gov.br. 

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

Conforme a profissional de Educação Física, especializada em Fisiologia do Exercício, Sandra Fachineto, pedalar pode ser considerada uma modalidade predominantemente aeróbia. "Significa dizer que para os músculos produzirem energia para a contração muscular, o organismo requer grande aporte de oxigênio. Por isso, nesta modalidade, o sistema cardiovascular é bastante requisitado assim como o músculo-esquelético, uma vez que as pedaladas solicitam força para vencer o percurso", explica ela.

Na verdade segundo Sandra, o ato de andar de bicicleta é uma das atividades mais completas quando se fala em exigência fisiológica e se praticada, regularmente, em longo prazo proporciona vários benefícios à saúde como:

- melhora sistema cardiovascular observado principalmente por uma diminuição nos valores de frequência cardíaca e de pressão arterial de repouso, prevenindo o desenvolvimento de futuras doenças cardíacas. Isto faz com que o coração gaste menos energia e se torne mais forte. Além disso, o ciclismo faz com que aconteça uma dilatação das artérias, relaxando-as, evitando sobrecarga cardíaca. Também melhora a oxigenação dos pulmões e dos tecidos corporais.

- por ser uma modalidade aeróbia contribui na queima de gordura, auxiliando na perda ou manutenção do peso corporal. Por consumir gordura também pode manter os níveis de triglicerídeos (gordura do sangue) e o colesterol ruim.

- para vencer os obstáculos, exige que o corpo produza força constante e com isso tonifica os músculos, principalmente, dos membros inferiores.

- além disso, também reduz o estresse e a ansiedade do dia a  dia uma vez que libera endorfina (um neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar em nosso organismo).

"Para que o ciclismo gere os benefícios fisiológicos a saúde é necessário que seja praticado pelo menos três vezes por semana com tempo mínimo de 30 a 60 minutos. O ideal é que se pratique exercícios aeróbios, como o ciclismo, cinco vezes por semana durante 30 minutos", aconselha a profissional.